O que não pode ser requentado...
Aqueça, adicione água para dissolver e deixe ferver por alguns minutos. Despeje no prato e deguste. Não há nada de novo na geladeira. Não há nada de sólido no estômago.
"Pronto, está com cheiro de novo, pode provar..." Será?
Comida requentada é assim: O sabor fica por conta da lembrança do paladar do dia anterior.
Se tratar-se de um caldo, sopa leguminosa ou carne assada de panela, é bom pôr a imaginação para funcionar. Ou, acrescente amor e um "Sarzon", é claro.
Agora, começo minhas tradicionais metáforas. Desculpem, mas sempre comi com os olhos a maioria dos pratos diários e as palavras mastigam as inconstâncias humanas, alimentando a constante de sentir fome. Em busca de prazeres que desconheço, que não sei se serão saciados por necessidades básicas ou por aquelas inventadas.
Uma paixão que nunca ferveu, por exemplo, não pode ser requentada. Não adianta insistir. Horas no fogo serão em vão. A panela não absolve o calor, o caldo evapora mas não engrossa.
E pensamentos também evaporam, sonhos vão ralo a baixo, temperos são desperdiçados. Fica o cheiro de lembrança no ar, mas não se deixe enganar... Assim como não se derrete o sorvete para tomar o suco, não se ferve o coração para dar sustância ao amor.
E ainda há quem acredite que os dias na gelareira apuram o sabor da comida... Sentimento congelado só apura dor.
Este ano, meu Círio foi diferente dos outros. Não comi "Pato no tucupi", não fui ao Ver-o-Peso, nem ao "Arrastão do Pavulagem". Comi minha Maniva em plena quarta-feira, rala, só para não deixar morrer a tradição que resta em mim. Para alimentar a alma de menina-verde, cansada de paixões requentadas, de gente pré-cozida. Existem pratos que só se comem quentes. Existem sonhos que só se sonham uma vez.
Não tenho microondas em casa, mas minhas metáforas estão mais vivas do que nunca. Reaquecem o prato diário também através dos olhos. Por eles observo e registro as cores dos ingredientes humanos. A dor misturada com o riso desesperado nos olhos do Pai. A dor exposta na pele da mãe. O quarto lotado de infância, adolescência e juventude, numa geração de irmãs.
É preciso comer de olhos bem abertos nessa vida doida. Mas é bom mastigar e fantasiar de olhos fechados.
E com tanta variedade na mesa, a gente até esquece a sobremesa...
A paixão que tentava ser comida novamente, já perdeu espaço no estômago.
A Menina-Maniva tem os quatro sentidos aguçados. Se o paladar falhar, o olfato desvenda. E de olhos fechados comanda o canto das palavras.
"Pronto, está com cheiro de novo, pode provar..." Será?
Comida requentada é assim: O sabor fica por conta da lembrança do paladar do dia anterior.
Se tratar-se de um caldo, sopa leguminosa ou carne assada de panela, é bom pôr a imaginação para funcionar. Ou, acrescente amor e um "Sarzon", é claro.
Agora, começo minhas tradicionais metáforas. Desculpem, mas sempre comi com os olhos a maioria dos pratos diários e as palavras mastigam as inconstâncias humanas, alimentando a constante de sentir fome. Em busca de prazeres que desconheço, que não sei se serão saciados por necessidades básicas ou por aquelas inventadas.
Uma paixão que nunca ferveu, por exemplo, não pode ser requentada. Não adianta insistir. Horas no fogo serão em vão. A panela não absolve o calor, o caldo evapora mas não engrossa.
E pensamentos também evaporam, sonhos vão ralo a baixo, temperos são desperdiçados. Fica o cheiro de lembrança no ar, mas não se deixe enganar... Assim como não se derrete o sorvete para tomar o suco, não se ferve o coração para dar sustância ao amor.
E ainda há quem acredite que os dias na gelareira apuram o sabor da comida... Sentimento congelado só apura dor.
Este ano, meu Círio foi diferente dos outros. Não comi "Pato no tucupi", não fui ao Ver-o-Peso, nem ao "Arrastão do Pavulagem". Comi minha Maniva em plena quarta-feira, rala, só para não deixar morrer a tradição que resta em mim. Para alimentar a alma de menina-verde, cansada de paixões requentadas, de gente pré-cozida. Existem pratos que só se comem quentes. Existem sonhos que só se sonham uma vez.
Não tenho microondas em casa, mas minhas metáforas estão mais vivas do que nunca. Reaquecem o prato diário também através dos olhos. Por eles observo e registro as cores dos ingredientes humanos. A dor misturada com o riso desesperado nos olhos do Pai. A dor exposta na pele da mãe. O quarto lotado de infância, adolescência e juventude, numa geração de irmãs.
É preciso comer de olhos bem abertos nessa vida doida. Mas é bom mastigar e fantasiar de olhos fechados.
E com tanta variedade na mesa, a gente até esquece a sobremesa...
A paixão que tentava ser comida novamente, já perdeu espaço no estômago.
A Menina-Maniva tem os quatro sentidos aguçados. Se o paladar falhar, o olfato desvenda. E de olhos fechados comanda o canto das palavras.
1 Comentários:
Às 21 de outubro de 2008 às 03:15 , kxncv,m disse...
Como consegues escrever textos tão perfeitos, minha cara?
Saudades suas.
http://jardimdainsanidade.wordpress.com
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