Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

domingo, 25 de novembro de 2007

Naná Vasconcelos e o encontro dos mantras amazônicos


Trabalhar em grandes veículos de comunicação tem suas delícias e regalias. Uma delas é ganhar cortesias de grandes shows e encontros musicais. Primeiro recebemos ligações dos assessores de imprensa, sempre muito simpáticos, oferecendo "seu produto" para abrilhantar a matéria de cultura que encerrará o jornal de sexta. Depois vemos os shows na primeira fila. É uma troca justa.
Um sábado, 2 convites para o show "Encontro de tambores" de Naná Vasconcelos e o Trio Manari. Gravação de um dvd "impiratável" (será que existe essa expressão e possibilidade?), digno de entrar para história da percussão mundial.
E eu na platéia com os ouvidos enfurecidos, tentando controlar as mãos e a cabeça indo no ritmo das cabaças, que viravam metralhadoras de graves cheios de balanço, e tentando ainda, controlar a voz cantarolante ao som de pinicos que viravam cuícas assim derrepente, como num passe de mágica, na mão do mestre Naná.
Os mantras da Amazônia foram carimbolados e batucados por três figuras diferentes e que se completavam no palco. Um discurso emocionado, mãos que pareciam irreais e incontroláveis em cima do pandeiro, uma voz que ecoava e combinava com cada timbre diferente dos tambores. O Trio Manari parecia tocar com um espelho imaginário, eu me ouvia neles.
E a quarta figura, de olhos grandes e ritmados, convidou a platéia a fazer mais encontros em si mesmo, ser o quinto percussionista. Colocou os seres sem ritmo para bater palmas, foi maestro de zumbidos que não precisavam ser afinados, ensinou um mantra para os que não sabiam cantar e depois fez cada um deles não querer mais parar de soar a sua maneira.
E essa é a força da música, segundo Naná: "Viva a música."
Ele sabe das coisas porque se alimenta dessas pequenas vozes, dos barulhos da água do rio Amazonas que tentou imitar com maracás e com a memória musical de diversas melodias mundiais.
O peso desses sons no palco fez o público sair leve, cantando os mantras que já estavam dentro da sua identidade amazônica e que agora encontraram as vozes populares de sua origem. Esse encontro foi mesmo de tambores, para alivar dores e remexer quietudes.
A menina maniva saiu es-pa-lha-da. Juntando os pedaços das canções e ritmos para guardar e nunca mais esquecer que fez batuques um dia.

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