Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Natal de Patichouli

Na minha casa, desde quando me entendo por gente, existe uma tradição: Mamãe reúne as filhas no começo de Dezembro para abrir o baú da sala e retirar todos os penduricalhos enclausurados nas caixas de papelão. Todos os galhos esquecidos e murchos da árvore natalina nos cantos do baú, são montados e reanimados um a um, como um quebra cabeça. É uma arrumação-retrospectiva "melhores e piores momentos" do ano que passou. É inevitável a Mamãe não lembrar e reclamar que deveria ter comprado mais arranjos para árvore ou novos jogos de luz . O mesmo Papai Noel empoeirado fica a guardar os presentes no pé da árvore, a mesma estrela dourada retocada com esprei, no topo, observa a colocação de cada enfeite nos galhos. E o mesmo cheiro no ar.
Certa vez, uma amiga cantou que seu Dezembro tinha cheiro de canela e jasmim. Já aqui em casa esse mês tem cheiro de Patichouli, muito mais do que os outros. Para os paraenses desinformados, Patichouli é um óleo de cheiro forte, retirado de plantas de mesmo nome, oriundas de terras Indianas. Ele é um dos componentes dos famosos saquinhos de cheiro de roupa do Pará, vendidos no ver-o-peso e pela minha Mãe.
Minha mãe é "cheireira" desde adolescente e nossa família inteira, de certa forma, tem esse cheiro entranhado nas roupas, nas gavetas, nos armários, e até nos movimentos de mãos da mamãe, que escondem restos de raízes de patichouli por debaixo das unhas. E não tem jeito, onde ela pega, o cheiro fica.
Minha mãe é extremamente habilidosa com as mãos. Meus laços de fitas nunca saem tão perfeitos quanto os dela. Meus embrulhos de presentes nem se comparam com a leveza da dobradura de minha mãe em cada papel. Ela nem liga se eles serão rasgados e jogados no lixo logo depois da meia noite do dia 24. O que importa é o que eles guardam e o que representam em baixo da árvore.
Mas o Patichouli só esta no cheiro ambiente do nosso natal, não entra no visual da árvore. Mamãe acha extremamente brega Árvores de natal regionalistas. A nossa árvore é tradicional, de plástico e bem antiga. Mas os enfeites (depois que tiramos a poeira) ainda mantêm muito brilho, vermelho, dourado... Em cada folha uma bengala do Papai Noel é colocada (Mamãe diz que elas trazem dinheiro e sorte), foram compradas antes do meu nascimento, e continuam segurando a superstição e o brilho no olhar rigoroso da Márcia-Mãe.
Dona Márcia ama ver as ruas da cidade cheias de pontos luminosos. E eu amo ver seus olhos brilhando junto com eles. Amo também "bater perna" no comércio em busca de presentes que nem sempre são para pessoas queridas e amadas. Minha mãe tem a sábia arte de unir bondade e economia na época natalina. Ela sempre arruma um jeitinho de não deixar ninguém insatisfeito.
São preparados vários sacos, com 10 cheirinhos cada, embalados e devidamente prontos para serem presenteados. Quem não gosta do nosso cheiro nem entra em casa, e muito menos é digno de participar da nossa ceia de Natal. Então, faltou presente, tem o nosso cheirinho. E essa pessoa vai levar na lembrança aquele dia por um bom tempo do novo ano. Afinal, um cheiro dura na memória bem mais do que qualquer presente.

E para a Menina-maniva, quanto mais cheirar a panela e a vida, melhor é a comida de todo dia. Um dos principais ensinamentos de minha Mamãe-cheirosa.



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