Em terreno de ninguém, aquarela e pincéis poderosos
Primeiro, é apenas o papel, ou a tela, ou a idéia. Depois, a caneta, a tinta, a ação. Mais tarde, os olhos, as significações, as recriações. Uma obra de arte sempre começa do mesmo lugar, do mesmo papel em branco, da mesma ânsia de eternidade de qualquer artista.
Ser eterno para si ou para os outros? Uma questão que sempre permeou as relações artista-obra-espectador. Ser um artista de galeria, exposições ou um artista urbano, intervenções ao ar livre ? Tudo depende do ponto de partida, agora, não apenas da arte, mas do que além da eternidade, instiga o criador: Seus desejos de reconhecimento e de posse.
Se satisfazer apenas com um sentimento agradecido, um olhar estarrecido nas ruas. Ou é preciso agregar um valor ao quadro, que estampará escritórios, lares e o dia-a-dia? Quanto vale a arte? Quanto vale a eternidade? A Menina Maniva está questionadora e confusa.
Um texto publicado no blog do portal G1, pelo crítico de arte Luciano Trigo, me fez pensar em algumas coisas que envolvem arte, principalmente na nossa cidade, que sempre me incomodaram. Luciano utiliza como exemplo de elitização e investimento em vão do Governo Federal na arte Brasileira, em uma feira realizada na Alemanha semana passada (ARCO), que levou 108 artistas nacionais pela bagatela de 2,6 milhões de reais. Investimento na divulgação da cultura nacional para gringo nenhum botar defeito. Será mesmo?
O texto me fez pensar mais do que qualquer obra de arte contemporânea ou instalação instigadora pelas ruas das grandes metrópoles. Me fez pensar nesse mercado de valores que permeiam a arte e que na maioria das vezes, o próprio artista desconhece. Ele é levado, como bem comenta Trigo, pela maré de sucesso e fama midiática, ou os menos conscientes apenas porque tem contas a pagar. O que tem que ser questionado, nesse sentido, não é a ética do artista, mas da parcela que cabe a ele deste latifúndio cheio de invasores com olhos gordos. Já que o negociado nas praças e nas galerias privadas também contribui com as cargas tributárias do Estado, quero entender se os 2,6 milhões investido em poucos valorizam realmente a arte de tantos, Brasil afora.
O Governo valoriza na Alemanha e não cuida dos Museus Nacionais. Não "tampa o sol com a peneira", não. Deixa todo mundo pensar que o dia está lindo, o tempo todo. Assim como (já regionalizando), artistas como mestre Verequete, La Pupunna e alguns cantores apadrinhados da nossa cidade, vão para a França, passam uma semana, ganham o cachê combinado (que não é divulgado) e daqui a 2 meses, nem sabe onde tocar, os teatros estão ocupados com as apresentações do lendário Verde-ver-o-peso, ou de alguma Banda que se apresentará cobrando um ingresso de 15reais. Mas o que é 15 reais gente, perto do valor da arte ? É 15 reais. O que vale é a plateia cheia e as páginas dos jornais floridas. Assim como as notícias: "arte na escola", "arte na favela", "arte na comunidade". Arte na lama e na fama.
Justiça seja feita, artista em Belém do Pará já valeu bem menos. Hoje existem projetos, leis de incentivos, pautas gratuitas, espaços alternativos...Enfim, existem espaços, e artistas consagrados e panelas bem organizadas. Ah, não quero começar a falar delas, cansei. Deixo um trecho do texto do Trigo para falar por mim:
"Isso me leva a outra observação sobre a cobertura da mídia à Arco, que de certa forma reflete o papel geral que a imprensa assumiu em relação à arte. Praticamente todos os jornais e revistas repetiram as mesmas informações, em tom de oba-oba, exaltando a diversidade da arte brasileira apresentada pelas 32 galerias brasileiras que participaram da festa. Até os artistas citados, entre os 108 convidados, são sempre os mesmos. Nem uma linha de reflexão crítica ou estética, nenhuma tentativa de hierarquização em relação às obras expostas. Chegamos ao ponto em que não se discute mais arte, a não ser em termos de cifras ou de espetacularização mediática: não interessa a ninguém apontar que esta ou aquela obra é um fracasso, que este ou aquele artista está equivocado, porque equívocos e fracassos não fazem parte do vocabulário da arte relativista e pluralista de hoje."
Como podemos ver, o que só um pontinho incomodando-me por aqui, é um questionamento bem mais complexo na arte mundial, não existem vocábulos para decifrar a modernidade agregada aos novos valores de tanta linguagem. Ainda existe um outro ponto mais divisor de águas e opiniões ainda: Onde a arte realmente chega? Por favor, vá a Presidente Vargas perguntar qual daqueles trabalhadores do comércio entrou na Galeria do Banco da Amazônia, que fica bem pertinho, de graça, para ver a exposição. Vá até o Ver-o-Peso e pergunte quantos feirantes já entraram no Solar da Beira para ver as fotos do fotógrafo fulano de tal. Em Belém ninguém gosta de ir em exposição, a não ser os intelectuais amigos dos artistas. A arte ainda é muito elitista, e o pior, com a fachada democrática, de graça e estampada nas mídias. A educação do olhar já foi moldada, e também não quero aqui questionar que a arte tem que sempre atingir a todos. Ela sempre atinge a parcela que se dispõe a atingir, mas o questionável é justamente o pluralismo e falta de parâmetros que Trigo combate no trecho acima. Os artistas de instalações, lunáticos, muitas vezes na clandestinidade das esquinas, não caracterizam bem a nossa arte regional e não vão jamais conhecer a França.
E quem colocou os rótulos ? Não existem críticos de arte, mas em Belém têm gênios com opiniões para tudo. Ou é muito bom ou nem se comenta. Existirão sempre os críticos de futebol e política, na arte todo mundo tem medo de meter o bedelho. Os que metem, ganham para isso e por isso, perdem-se. Terreno onde povão não invade. Terreno que era para ser de ninguém.
A Menina Maniva também quer viajar o mundo com sua arte.
Por isso, já começou a planejar sua primeira instalação em praça pública: "Aos mestres, com carinho. Ao Povo, baratinho. Aos olhos, bem facinho."
Ser eterno para si ou para os outros? Uma questão que sempre permeou as relações artista-obra-espectador. Ser um artista de galeria, exposições ou um artista urbano, intervenções ao ar livre ? Tudo depende do ponto de partida, agora, não apenas da arte, mas do que além da eternidade, instiga o criador: Seus desejos de reconhecimento e de posse.
Se satisfazer apenas com um sentimento agradecido, um olhar estarrecido nas ruas. Ou é preciso agregar um valor ao quadro, que estampará escritórios, lares e o dia-a-dia? Quanto vale a arte? Quanto vale a eternidade? A Menina Maniva está questionadora e confusa.
Um texto publicado no blog do portal G1, pelo crítico de arte Luciano Trigo, me fez pensar em algumas coisas que envolvem arte, principalmente na nossa cidade, que sempre me incomodaram. Luciano utiliza como exemplo de elitização e investimento em vão do Governo Federal na arte Brasileira, em uma feira realizada na Alemanha semana passada (ARCO), que levou 108 artistas nacionais pela bagatela de 2,6 milhões de reais. Investimento na divulgação da cultura nacional para gringo nenhum botar defeito. Será mesmo?
O texto me fez pensar mais do que qualquer obra de arte contemporânea ou instalação instigadora pelas ruas das grandes metrópoles. Me fez pensar nesse mercado de valores que permeiam a arte e que na maioria das vezes, o próprio artista desconhece. Ele é levado, como bem comenta Trigo, pela maré de sucesso e fama midiática, ou os menos conscientes apenas porque tem contas a pagar. O que tem que ser questionado, nesse sentido, não é a ética do artista, mas da parcela que cabe a ele deste latifúndio cheio de invasores com olhos gordos. Já que o negociado nas praças e nas galerias privadas também contribui com as cargas tributárias do Estado, quero entender se os 2,6 milhões investido em poucos valorizam realmente a arte de tantos, Brasil afora.
O Governo valoriza na Alemanha e não cuida dos Museus Nacionais. Não "tampa o sol com a peneira", não. Deixa todo mundo pensar que o dia está lindo, o tempo todo. Assim como (já regionalizando), artistas como mestre Verequete, La Pupunna e alguns cantores apadrinhados da nossa cidade, vão para a França, passam uma semana, ganham o cachê combinado (que não é divulgado) e daqui a 2 meses, nem sabe onde tocar, os teatros estão ocupados com as apresentações do lendário Verde-ver-o-peso, ou de alguma Banda que se apresentará cobrando um ingresso de 15reais. Mas o que é 15 reais gente, perto do valor da arte ? É 15 reais. O que vale é a plateia cheia e as páginas dos jornais floridas. Assim como as notícias: "arte na escola", "arte na favela", "arte na comunidade". Arte na lama e na fama.
Justiça seja feita, artista em Belém do Pará já valeu bem menos. Hoje existem projetos, leis de incentivos, pautas gratuitas, espaços alternativos...Enfim, existem espaços, e artistas consagrados e panelas bem organizadas. Ah, não quero começar a falar delas, cansei. Deixo um trecho do texto do Trigo para falar por mim:
"Isso me leva a outra observação sobre a cobertura da mídia à Arco, que de certa forma reflete o papel geral que a imprensa assumiu em relação à arte. Praticamente todos os jornais e revistas repetiram as mesmas informações, em tom de oba-oba, exaltando a diversidade da arte brasileira apresentada pelas 32 galerias brasileiras que participaram da festa. Até os artistas citados, entre os 108 convidados, são sempre os mesmos. Nem uma linha de reflexão crítica ou estética, nenhuma tentativa de hierarquização em relação às obras expostas. Chegamos ao ponto em que não se discute mais arte, a não ser em termos de cifras ou de espetacularização mediática: não interessa a ninguém apontar que esta ou aquela obra é um fracasso, que este ou aquele artista está equivocado, porque equívocos e fracassos não fazem parte do vocabulário da arte relativista e pluralista de hoje."
Como podemos ver, o que só um pontinho incomodando-me por aqui, é um questionamento bem mais complexo na arte mundial, não existem vocábulos para decifrar a modernidade agregada aos novos valores de tanta linguagem. Ainda existe um outro ponto mais divisor de águas e opiniões ainda: Onde a arte realmente chega? Por favor, vá a Presidente Vargas perguntar qual daqueles trabalhadores do comércio entrou na Galeria do Banco da Amazônia, que fica bem pertinho, de graça, para ver a exposição. Vá até o Ver-o-Peso e pergunte quantos feirantes já entraram no Solar da Beira para ver as fotos do fotógrafo fulano de tal. Em Belém ninguém gosta de ir em exposição, a não ser os intelectuais amigos dos artistas. A arte ainda é muito elitista, e o pior, com a fachada democrática, de graça e estampada nas mídias. A educação do olhar já foi moldada, e também não quero aqui questionar que a arte tem que sempre atingir a todos. Ela sempre atinge a parcela que se dispõe a atingir, mas o questionável é justamente o pluralismo e falta de parâmetros que Trigo combate no trecho acima. Os artistas de instalações, lunáticos, muitas vezes na clandestinidade das esquinas, não caracterizam bem a nossa arte regional e não vão jamais conhecer a França.
E quem colocou os rótulos ? Não existem críticos de arte, mas em Belém têm gênios com opiniões para tudo. Ou é muito bom ou nem se comenta. Existirão sempre os críticos de futebol e política, na arte todo mundo tem medo de meter o bedelho. Os que metem, ganham para isso e por isso, perdem-se. Terreno onde povão não invade. Terreno que era para ser de ninguém.
A Menina Maniva também quer viajar o mundo com sua arte.
Por isso, já começou a planejar sua primeira instalação em praça pública: "Aos mestres, com carinho. Ao Povo, baratinho. Aos olhos, bem facinho."
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2 Comentários:
Às 26 de fevereiro de 2008 às 05:05 , Marcelo disse...
Menina Maniva,
tenho minhas dúvidas se a arte em Belém é elitista. Acho que grande parte da população não é "vítima" nesse processo (exceção para aqueles para quem chegar ao fim do dia vivo já eum milagre), ela faz escolhas, como todos nós, e não tem escolhido arte, por bons e maus motivos. Parabéns pelo texto tão cheio de estilo e instigante
Às 28 de fevereiro de 2008 às 20:12 , Unknown disse...
"Eu posso vender...quanto vai pagar?"
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