Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A vida é um fogo de artifício


Muitos abraços, muitos desejos de saúde e sucesso. Muita comida. Muita gente de branco. Muito Champagnat.
A espera e a contagem final antes do ano novo chegar é sempre a mesma. E se ouve de longe o estouro da garrafa e os gritos de felicidade.
Fomos todos a um pátio da casa das tias, onde o céu é perto e o chão é liso. Demos as mãos e rezamos um pai nosso, depois, alguém gritou: "Um ano maravilhoso virá!". Então batemos palmas, e cada um foi buscar sua taça de champagnat, e realizar sua crença pessoal: Ou uvas, ou pulinhos com o pé direito ou alguma reza esquecida durante o ano, repetida apenas nessas épocas festivas de promessas também esquecidas.
Depois os mais jovens vão para os encontros de amigos, ou festas dançantes, e os mais velhos comem mais um pouco e se preparam para dormir o sono dos justos, afinal, trabalharam muito o dia todo, e por que não dizer, o ano todo, para preparar a ceia daquela noite e de muitos outros dias de comemoração.
Pego uma corona no sono do meu pai a caminho de casa, e vou para uma reunião de amigos. Gente legal, música boa, mais um pouco de comida deliciosa. Ah, e lá mais um incremento indispensável para festas de reveillon: Fogos de artifício.
O céu se ilumina por alguns instantes e depois só resta a fumaça no ar.
No primeiro dia do ano os fogos me fizeram refletir uma filosofia típica de primeiro de Janeiro: A vida é um fogo de artifício.
Ou seriam, Artifícios em fogos? Sei lá. Ela é cheia de pequenos detalhes luminosos que compõe a grande luz maior. O barulho, o brilho, a cor e a fumaça no fim de tudo, as cinzas pelo chão. A noite é o cenário perfeito para foguetear, o brilho só compete com o das estrelas. Na vida, usamos comummente o artifício do fogo no peito para suportar amores bandidos.
Eu soltei meu primeiro rojão hoje, segurei bem firme. Foram momentos de tensão. Têm que segurar forte e marcar uma direção certa para o céu, que jamais pode ser o teto da casa, ou a janela da vizinha. A vida pode explodir em várias direções.
Os fogos que minha amiga comprou, eram daqueles simples, que fazem mais barulho do que espetáculo. E então eu comecei a pensar que têm gente que passa a vida assim, armando o seu rojão sem direção e não sabendo o momento certo de estourar o brilho.
“Onde guardar tanto barulho e tanto brilho ?”, minha cabeça matuta enquanto fumo um cigarro (o primeiro e último do ano, prometi), e a fumaça se mistura com a neblina da cidade. Quanta neblina. Quanta fumaça de fogos perdidos. Quanta luz sendo emitida mundo a fora.
E ver a noite do primeiro dia (que é, na verdade, o começo da primeira manhã) do ano coberta por esse ar cheio de fumaça articulada pelo brilho,pela ansiedade de um ano melhor, foram os meus artifícios para a felicidade pura, sem os artifícios coloridos dos dias. É bom acender a chama do rojão e aguardar para ver os fogos estourando subitamente. A chama viva, acende e apaga, no espaço infinito do céu.
Ah, eu queria mesmo era soltar rojões de fogos todos os dias. Fazer um espetáculo pirotécnico solitário. Não para acordar os vizinhos, nem quando o time do coração ganhar um campeonato, nem quando alguém casar e prometer ser eternamente feliz. Queria soltar mesmo todos esses sorrisos reprimidos,espremidos e comprimidos num único rojão de luz, todos os dias ao acordar. Mas, pensando bem, se assim fosse, luzes iam se repetir e logo perderiam a graça.
Agora sim eu compreendi porque os fogos de artifícios nunca perdem a graça: Eles nunca são iguais. São como a vida, diferentes a cada novo ano, novo olhar.
Como ver tanta cor no céu e não sorrir ? Tudo bem, mas mesmo assim eu me nego a tentar esconder a minha melancolia de primeiro de Janeiro num trago de cigarro. Chega de filosofias de primeiro de Janeiro. A confraternização mundial, na verdade, impera dentro de mim, com uma pitada de ironia e com fogo, não fogos.
Vamos então ao segundo cigarro de 2008, (quebrar promessas) e a primeira fumaça poluente do ano.
Vamos defecar o excesso de comida e começar a dieta anti-carboidratos.
Vamos ser felizes na medida certa para a felicidade discreta.
Vamos, vamos.
Serei a primeira a soltar os fogos já no fim de 2008. Não se iluda, pode ser como amanhã, sempre passa tão depressa.

Obs: A Menina Maniva jamais usa branco na virada de ano, porque está acima do peso e branco engorda. Esse ano, a roupa foi azul-celeste e prata, em homenagem ao céu e aos fogos multicolores da vida.

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