Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

sábado, 12 de abril de 2008

Com a boca do estômago


Seres orgânicos, ativados pela veemência do orgulho, dos pés no chão e calça jeans como segunda pele. Somos feitos basicamente de estômago e sexo. Sim, oramos a divindades, fazemos magia negra, vamos a cartomantes e acreditamos que santos choram. Comemos alface dentro do sanduba do fast-food, participamos de corridas beneficentes e temos o sentimento de dever cumprido. Inventamos também café com leite e "cream cracker" para alimentar a fome das madrugadas. Amém.
Também vestimos a carapuça sem medi-la antes, atamo-nos a conclusões cheias de medo, ressentimentos, viramos escravos do espelho, cortamos o cabelo, tomamos chá verde e pedimos cintas elásticas pela internet, e como elas apertam. Mas queremos respirar apenas, não suspirar feito bobo por aí.
Nunca perdemos, nunca desistimos. A luta é nossa droga, a mais alucinógena de todas. A luta vã de toda manhã, de todo jornal, de toda página de blog. A insatisfação é pertinente em nossos dias. Somos humanos tão humanos. Somos gente tão gente. Somos carne, osso e gordura.
Quando o primeiro soco na barriga acontece, descobrimos que nosso estômago tem boca, olhos, ouvidos. Que o que estava entalado por lá grita, berra, cospe e humilha, sem ao menos uma gota de vômito sair do corpo. Esse órgão se contrai e se distrai, mandando mensagens de euforia para o cérebro. Então sentimos que é o fim de tudo, prometemos nunca mais comer nada. E assim, começamos a nova luta, a revolução desses dias: Queremos curar a gastrite emocional.
Viramos bulimicos, fazemos endoscopia, reeducação alimentar, tudo em vão. Cobiçamos o estômago alheio, fazemos chacota do inimigo, fumamos como condenados, bebemos mais ainda. Conspiramos contra médicos sádicos e assustadores, brigamos com nossas Mães que fazem mingau de Maizena toda noite.
Depois de tentar tudo, só parece ter nexo a cura de dentro para fora. O estômago é como bactéria fortalecida. Começa a suportar socos cada vez mais fortes, caldos mais quentes, remédios mais potentes, tão ácidos quanto o próprio líquido estomacal. Vivemos para isso, para ele e nossos enjôos. Apelamos para métodos orientais, espirituais e astrológicos. Mas ao descobrir que o próximo soco pode vir mais forte ainda, nos cagamos de medo.
O problema é que pensamos ter educado esse maldito órgão feito de impulsos involuntários, mas nem mastigar direito sabemos, mandamos tudo para dentro, a base de "Eparema".
E para terminar, morremos satisfeitos, de estômago cheio e coração vazio. E então a família percebe que nosso maior desejo constava o tempo todo na carteira de identidade: Doador de órgãos e tecidos.

A Menina Maniva tem estômago de ferro, claro. Só queria ter mais agilidade para desviar dos socos. A ferida de dentro nem se nota, mas dói e cresce.

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