Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

domingo, 24 de agosto de 2008

Carta papel toalha

Cara Menina Maniva,

O que está acontecendo com você? Os dias de sol não te inspiram mais? A panela está à "banho maria"? Ouça verde menina, teu tempo de ferver é agora. Ou esperas que tua face pouco simpática, vá como mero acompanhamento no prato de todo dia? Não seja boba.
A melancolia não faz parte da receita. A gordura, a planta e o suor do cozinheiro são tua essência. Cria diante do destino várias linhas tortas, curvas, falhas, porque a a vida não desce goela abaixo de forma certeira. Eu tenho orgulho de ti, Maniva. Invejo tua força, tua ânsia de temperar os dias, teu sabor original, tua panela sempre aberta.
Quem me dera ter um terço do teu veneno, mesmo que inofensivo. Ah menina, não sabes o que é ferver sem saber o que de fato está a cozinhar, e não ter para quem oferecer os talheres e o lugar a mesa. Eu te convoco novamente a olhar como espelho o prato vazio. Ainda queres fazer a dieta de não ser? Tenho pena de quem não sabe se comer.
Tu és um exemplo, Menina Maniva. Estás no topo da tua cadeia alimentar e não presa no chão. Sabes a medida da tua colher, sabes mexer a cintura como quem mexe a panela. Acredite, aqueles que precisam de você estão a esmo, famintos, vermelhos de tanta espera. Como eu, respeitam o tempo de planta, o ecossistema, mas quando se está com fome, o estômago fala por si.
Volte a espantar as aves dos galhos, a desarrumar os sacos de lixo, a riscar as unhas no quadro negro. Aprendi com você que a felicidade está em brincar de desequilibrar. Não acreditamos no equilíbrio do Universo.
Então, meu pedido, menina, está indo de fora para dentro, vai se encontrar com aquilo que você já preencheu por lá. Espero que minha carta te sirva de papel toalha após a refeição. Que ela te limpe e te motive a voltar à auto-digestão.

Abraço forte,

Márcia Gabrielle Dantas