Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A palavra e sua forma crônica: Digital ou impressa ?

Há quem diga que a decadência dos cronistas de jornal veio com os blogs. Quem gostava de ler toda terça feira a coluna do fulano, agora lê o blog que ele atualiza todo dia. Sensações diárias, são menores do que sensações semanais, mas ninguém liga, é preciso sentir o mais rápido possível, ler antes, publicar antes.
Nos blogs todos podem ser cronistas famosos, e hoje, a Internet é mais acessada do que um jornal é vendido nas bancas. Existem também os cronistas do jornal da Internet, alguns já se adaptaram a nova linguagem, texto rápido, muitos link's, muitas imagens. Outros, apenas fizeram "ctrl+c", ctrl+v, nas pílulas semanais do jornaleco. Esses escrevem coisas mais profundas no blog do que no jornal. Deve ser porque ainda existam os malditos "toques" e seus limites para com o simpático editor.
Antigamente era o máximo ter uma crônica publicada no jornal da região, a foto e carinha estampada na coluna. Quanta credibilidade. Mas e hoje? Com tantos cronistas de beira de esquina, de página de orkut, de frase de Msn, de "fotolog.com", ainda existe o fascínio do papel publicado ? Há quem diga que sim e vão mais além...
O que ocorreu com os jovens blogueiros-cronistas: Todos sonhavam com o nome publicado no jornal, para toda sociedade degustar seu veneno junto com o café. E também para mandar emoldurar e colar na parede do quarto a primeira publicação. Mas cansaram de mandar cartas ao leitor, de bajular o editor. E então veio a Internet redimir os corações dilacerados, unir os amados, os bem casados, os bulimicos, os ciumentos, os solitários e infelizes.
Redimiu, mas o blogueiro-cronista se sentiu tão vulnerável, tão igual aos milhares a escrever mundo digital a fora, que nem tem vontade de ter impresso seu primeiro "post". Ele já está no quinto blog e os comentários pouco apareceram, e os poucos eram de amigos que ele mesmo mandou o link...E quantos links estão por aí, abandonados, com idéias mortas? Ó jornal, socorro, queremos a carne, a matéria humana!
O papel nunca perderá o valor. É palpável. É matéria como carne. Quanto mais a "tecno-liga" nos faz efêmeros, buscamos os valores palpáveis no passado, como o papel. O dinheiro vivo ainda vale mais que o cartão de crédito.
Não é qualquer um que escreve em jornal, precisa-se ao menos ter bons contatos. Se não tiver boa escrita, pode ter uma coluna de fofocas. Existe ainda quem as lê, sabia ? Então, algumas coisas podem até evoluir tecnicamente mas mecanismos humanos não mudam.
Então, escrever bem, hoje, tem grande importância, sim. Já que tantos usam nos seus textos as mesmas gírias que conversam no Msn. Escrever em jornal, com foto e nome em coluna, pode ter sua importância potencializada pela Internet, ao contrário do que muitos pensavam.
Será que, neste caso, cabe a frase: Em terra de cego, quem tem olho é rei ? Bom, quem costumava ler cronistas de jornal andava insatisfeito, nesses últimos tempos. O motivo? A falta de satisfação dos cronistas, sentindo falta da resposta, da interatividade. Agora, pergunte ao blogueiro se ele não sonhou em ser colunista de jornal? Ó roda viva.
Então, os antigos cronistas agora são cronistas-blogueiros. E estão adorando se aventurar nas novas ondas. Já os jovens meninos, os nascidos e criados com palavras virtuais, blogueiros desde pequenos, anseiam as colunas delimitadas, querem os "toques" e a voz do editor enchendo o saco. E os cronistas blogueiros se divertem com a liberdade fugás da página virtual.
Ambos deslumbrados com a mesma linguagem, em mundos de receptores famintos, que precisam dessas pílulas.
Assim como eu tenho alguns blogs na minha lista de "favoritos", existem aqueles que ainda abrem o jornal todo dia na mesma coluna, após o café. Os rituais se repetem, porém a motivação dos escritores, blogueiros, cronistas, internautas, pensadores, se modifica. O Lugar comum de uns, é o paraíso do outro. E essa mistura é bem vinda. Que os jornais abram espaços para blogueiros- cronistas, blogs impressos, já pensou?
E que os blogs tragam aos mais velhos o senso de inclusão na roda viva digital, e que deixem-se recriar, não tenham ciúmes de cópias, apropriações de textos e nomes. Sei que todo escritor tem ciúme da sua palavra, ainda mais aqueles que um dia sonharam vender 2.000 exemplares, com seus devidos direitos autorais reservados.
Mas para eles, o que resta hoje é tentar criar seu espaço digital e saber vendê-lo. Um blog pode ser fonte de renda, sim, porque não? Enquanto os blogueiros escrevem de graça para os jornais, e ganham o esperado reconhecimento social, os cronistas ganham o mundo digital e publicam seus livros virtuais, realizam seus sonhos. Ambos deslumbrados, cheios de vontade de serem lidos.
O que já surpreende são as temáticas dos textos cada vez mais instantanêos, tanto no jornal, quanto no blog. Mas isso é uma tendência da modernidade, os escritores baratos não iriam escapar. Quando as coisas não mexerem mais do lugar, feito palavras fora da diagramação da página, ou uma montagem mau feita de imagem, aí sim, eu irei estranhar essa vida. Enquanto as coisas se movimentam, vou contemplando percepções aqui pelo blog. Até cansar de tentar ser palpável virtualmente.
E toda essa análise veio a calhar, sabe por quê? Porque tive sensações diferentes ao ler minha melhor amiga publicada. No jornal virtual parecia mais uma coluna, sem vida própria, que eu só leria se não tivesse outro link mais chamativo do lado. Quando comprei o jornal impresso, vi as letrinhas ali, o espaço que elas ocupavam era mais representativo, me preencheu. A foto dela ao lado, o rosto de menina e depois as palavras que eu já conhecia. A mesma pasta das cartas de infância guarda agora mais essa lembrança.
Essa sensação pode ser explicada pela minha relação de carne, de amizade, que é palpável mesmo de longe, com ela. Mas quem quiser ler Paloma Amorim, além de mim, pode acessar esse link que não vai parar em um lugar fora do comum da rede "internética". Porque são palavras feitas com pedaços de sonhos para serem lidos em qualquer lugar. E esse deve ser o sonho comum entre qualquer blogueiro ou cronista. Mais que palavra palpável em jornal, palavra viva.

A Menina Maniva está orgulhosa de sua amiga. E não se arrepende de ter abafado o primeiro blog. A Maniva tem muito mais sabor.

domingo, 16 de março de 2008

Come on baby, light my fire


"Boa Noite Andréa."
Foi assim que começaram os 5 minutos mais longos da minha vida. Ao Vivo.
Vivo. Vivo. Vivo.
Nem chegou perto do que senti quando subi no palco pela primeira vez, para cantar (e minha voz quase nem saiu), foi muito mais estranho, muito mais assustador, e tão intenso. E só foram 5 minutos. "So hot".
E depois de aquecer com tanta adrenalina é hora de chorar. Pois é, as lágrimas nascem ativadas pelo furor de dentro. Emoção limpa e avassaladora, que acalma, apaga o fogo sem congelar a superfície.
Depois, é só ouvir canções como as do Jim Morrison, voz que ainda estou descobrindo, me apaixonando... Hoje percebo que já consigo gritar, cantar alto, facilmente. Gosto de canções que são pílulas amargas, de efeito rápido e fácil acesso. Ah, "come on", você já quis ser possuída por essas drogas alucinógenas e queria estar na platéia, para ouvir atento o primeiro acorde. Drogas naturais aquecem o sangue vivo. Quem está no palco tampa os ouvidos, os gritos atrapalham. Jim devia saber do que falo.
Já a brusca felicidade é como pílula de açúcar, quem toma é a sua crença, não a doença. Por isso, prefiro tomar Morisson e depois sacudir forte a cabeça, como quem bebe uma Tequila. Gosto de ativar o que sinto. Deixo o sorriso intenso para as noites de carimbó, o batuque puro e a doce-dança...Viva. Viva. Viva.
Sacudir melodiosamente a cintura é para quem dosa muito bem as suas pílulas e tem coordenação motora. Ou iventa sua forma de rodar, sem vergonha. Tentei ser bailarina até os oito anos, mas era para corrigir o defeito no andar. Nunca gostei dessa rigidez com o sacudir, gosto de dançar na medida do meu arrepio. Então virei jornalista, arrepios sucessivos por minuto "ao vivo".
Aí sorrio, sorrio muito. E choro, choro muito. Depois que os créditos do jornal subiram, naquele "Ao vivo", foi uma mistura dos dois. Minhas lágrimas ferveram junto ao fogo. Meu sorriso estava molhado e não era de saliva. Eram emoções crônicas, células sonhadoras em reprodução.
É preciso ter com o que acender e com o que apagar. Fogo e água se completam, não se anulam. Tempo demais no mar enjoa, precisa-se de pílulas para segurar o estômago. A fogueira é mais bonita vista de longe e a noite. Durante o dia todo mundo pensa que brilha, cuidado.

Light my Fire, ligue a televisão. Faça meu "ao vivo"durar bem mais do que 5 minutos.

A Menina-Maniva está sendo televisionada. E tem medo que este fogo comece a queimar seus neurônios.

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quinta-feira, 6 de março de 2008

Nossos amigos dentro da tela


Um ano foi o suficiente para mudar meu olhar diante da Televisão. Sim, um ano por trás das câmeras e experimentando vez em quando ir "papagaiar" na frente dela. Deslumbres, cobranças, padrões de beleza, egos. A Tv é um misto de prazer e agonia. Só quem vive dentro dela sabe do que estou falando.
Os mecanismos necessários para um programa ir ao ar, são bem mais do que uma câmera na mão e um rostinho bonito que se comunique razoavelmente bem. Depois que você aprende que nem tudo é verdade, que reconstruir uma notícia ou fazê-la mais impactante depende apenas de um gesto do apresentador, ou um corte de câmera, ou uma palavra, o olhar já fica treinado para o que a Tv quer te dizer naquele instante. É isso que mais me instiga nesse veículo, o que eu vou dizer e o que os outros vão sentir. Me cutuca também, me incomoda, me deixa insegura se o cabelo está desarrumado, e ainda mais se a frase pode parecer mal colocada. O erro é erro sempre, mas é também efêmero. O acerto pode ser lembrado por alguns, mas não é bom se iludir, é bom procurar acertar como se quisesse não errar, se mantendo no eixo tênue, como o existente entre a tela e o controle remoto. Não é bom mudar o canal. Encontrar a frequência e ajustar a imagem é o desafio.
Quando eu comecei a assistir "Queridos Amigos", nova minissérie da autora Maria Adelaide Amaral na Rede Globo, pensei que estaria diante de mais um sucesso de vendas em Dvd. E eu estava certa, mas algo me surpreendeu: O valor humano tão real dentro da Tela.
Pois então, é a mesma tela das ficções, dos espetáculos de brilho e horror, e agora me senti tão tocada pela fala dos personagens, todos tão reais dentro da bolha. E as canções que embalam os lamentos e euforias caem feito luva e fazem cair por aqui, umas lágrimas a mais. Fazia tempo que alguma coisa dentro da Tv não me fazia chorar alegre, sabe, aquele chorar gostoso. Acho que meu último choro televisionado foi em 11 de Setembro, naquele atentado que todos têm a cena bem guardada na memória graças a nossa querida Tv. Pois bem, agora eu posso dizer que o Léo tem me feito pensar com seus clichês humanos, com seu amor insano pelos amigos e essa vontade de resgatar o que existe de melhor dentro deles e que o tempo engoliu. Ele entende que tudo que foi plantado com verdade, não morre.
É uma bonita ironia que Maria Adelaide nos propõe: Léo parece estar a beira da morte, mas antes dela vir, quer ser eterno nas lembranças dos amigos, reascendendo o amor a vida.
Eu pensei em quantos amigos já me fizeram andar para frente, e nos passos que já dei em falso também por eles, e quanta coisa preciosa nós vivemos. E quem não teve uma amiga esotérica, um amigo politizado intelectual, ou um casal de amigos que namoraram mas não acabaram juntos no final da história? Essas coisas tão nossas, da memória afetiva, que já foram expostas em outras "n" novelas, mas que de repente tocou de um jeito novo. E estão ali, na Tv, às onze da noite, no maior canal do país.
Eu nasci no fim da década de oitenta, meus pais nunca foram comunistas. Pelo contrário, votaram no Fernando Collor. Então, não é influência deles, eu gostei simplesmente. Vi que tenho amigos que podem estar sempre reproduzidos ali. Estão dentro da bolha, mas fazem parte de nós, não de mais um capítulo. Essas coisas são raras, nem Manoel Carlos consegue com tanta perfeição, esse tipo de identificação real, só utilizando um tema "bombante" do momento, ou como Gloria Perez, com pitadas de pôlemica. "Queridos Amigos" se sustenta com matéria humana.
Eu gostei das palavras duras, sangrentas, misturadas com momentos adocicados. Da entrega dos atores, da beleza da trilha, a perfeição dos enquadramentos de cena e até mesmo dos clichês que devem fazer o Dvd vender horrores, quando sair.
E mais: Eu nunca tinha visto a Tv ser tão questionada dentro dela mesma. Quem acompanha pode notar que em quase todos os capítulos aparecem cenas onde os personagens assistem o telejornal, ou algum programa de música. E sempre alguém questiona: "Porque você está assistindo isso?" Lembrei agora de uma cena em que Lena diz para a filha: "Tas vendo novela menina? Já não está na hora de dormir ? Vai ler um livro, é melhor."
Esse trecho é a prova de que Maria Adelaide conseguiu burlar o sistema através de metáforas, metendo um clichê aqui, outro ali, tal qual fez Chico Buarque com suas canções na época da ditadura, na mesma época dos personagens de "Queridos Amigos". Mas ela está fazendo isso hoje, quase trinta anos depois. Isso tem de ser exaltado, louvado! Questionar o conteúdo disseminado pelas novelas na maior produtora e exportadora de novelas da América Latina é no mínimo ousado.
Não precisa trabalhar no veículo para entender que a autora deu um tiro certeiro, tanto no público alvo, quanto na emissora. Mas talvez as mensagens subliminares de questionamento dos conteúdos televisivos só poucos percebam. Normal, comunicar em Televisão têm dessas coisas, um formato, várias ondas, reverberação e emoção, seja ela pura ou inventada, ou ainda recriada para atingir o que é real na gente, aqui, do lado de fora. A minha personagem ainda não tenho certeza quem seja.

Um dos motivos para ver "Queridos Amigos", é um diálogo como esse:

-Lena: Léo você é meu melhor amigo, irmão, afeto assim é muito raro, muito precioso para o sexo colocar tudo a perder..
-Léo: Por que o sexo coloca tudo a perder?
-Lena: Porque o sexo subverte, tira a espontaneidade, cria expectativas, confere poder..não gostaria de te odiar só porque você não fez o gesto que eu esperava ou não disse aquilo que eu queria ouvir.. .somos humanos.

A Menina-Maniva está dormindo mais tarde esses dias. Depois que "Queridos Amigos" acaba, vai ler um livro, emocionada.

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