Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A saga da paixão pós baile a fantasia

O poderoso James chega a festa. Sua jaqueta de couro, seu olhar amendoado, seu repúdio a dança. James não precisava se mexer muito para chamar atenção.

Parecia não flertar com ninguém, um estranho charme, um eterno flerte consigo mesmo, porém a malícia do olhar esbarrava sempre no de outra mulher. E mulheres alcoolizadas estavam em dúzias, em grupos, quase de pernas abertas no salão. James estava de olhos abertos na medida, e eles foram justo na direção de um pequeno nariz que apontava para o infinito. Infinitas possibilidades, milhões de caminhos, alguns desencontros. Línguas certeiras.

James não esperava acertar, errar, gostava de momentos vividos um de cada vez e palavras também, uma de cada vez. Deus, santos ou o infinito não existiam para ele. Gostou do nariz mas não deu bola para onde ele apontava.

A próxima parada, depois da festa, estava bem em baixo do que aquela jaqueta poderia esconder, do que o nariz da moça poderia cheirar, e do que os poucos quarteirões que separavam as moradias poderiam guardar. O James não era o "Dean", mas ela o viu assim. E insistiu, gravou o perfume, o beijo e a cor dos olhos. Promessas ocultas no pensamento já traçavam o destino dos dois.

Mas os dias de Domingo pareciam conspirar contra esse destino. Logo o primeiro dia da semana, era a sempre a última chance de um romance no paraíso, nos moldes que a moça sonhava. Os sonhos morriam na beira do rio, na beira dos copos de cerveja, na beira dos corpos sem donos. James só achava graça do modo com que ela falava com tanta propriedade de si mesma e arrebitava o nariz, jogava o cabelo, fazia pose de comercial. James gostava de ouvi-la falar e sorrir. Aos poucos imagens já estavam na memória do computador, do celular, do cérebro. A imagem dela, nele. O corpo dele, nela.

Então começaram a jogar o jogo dos dias de domingo, farras e amor com o vento, sucumbindo aquele destino, fantasias todos os dias. A moça resolveu deixar James apontar onde queria ir.

E foi. E foram. E vão.

Nariz avante, lua adiante, carro possante. James está prestes a virar advogado, vai defender causas melhores do que paixões arrebatadoras e talvez divorciar casais de vez em quando. Ela... Bem, está nariguda de tanto tentar amar, mas acha que dessa vez acertou na escolha.


A Menina Maniva tem uma fantasia verde, estratégica, quase um camaleão no mato. Fica irreconhecível quando está apaixonada.

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sábado, 24 de maio de 2008

Transas com Caetano


Muita calma. Em uma tarde de sábado de um fim de Maio, desprovida monetariamente e trabalhando menos do que o necessário, a Menina Maniva não enlouqueceu, não tomou ácido e muito menos está sonhando (Com Caetano,logo? Guardo meus sonhos eróticos para o Santoro).
O Disco "Transa", de 1972, chegou aos meus ouvidos nesta manhã. Um som vermelho, cheio de desejo. Percebi que ter vinte anos faz diferença,sim. Se eu tivesse feito trinta anos hoje, talvez passaria pelo álbum sem um sorriso sequer. Talvez. Transei ardentemente com "Nine out of ten" e me senti muito viva . O orgasmo veio ao som de "Triste Bahia" e eu nunca pus os pés em Salvador. Apenas senti junto com Caetano. Transar é sentir junto.
Quando vejo a figura que o ídolo, motivo deste post, se tornou, penso que gosto de ter vinte anos, gosto de conhecê-lo na época que ele tinha essa idade e mais alguns poucos anos de efervescência musical. Hoje ele não me apetece, não me levaria jamais para a cama. Mas "Transa", em 72, deve ter levado muita garotinha de vinte à loucura. Caetano com aquele violão não era de se jogar fora.
Nos dias globalizados, minhas amigas não têm orgasmos múltiplos ao som de nada que não venha da boca de seus machos. Eu prefiro uma música ambiente, um suor salgado na boca e um vento de ar condicionado na espinha. Calor só interno. Mas nessas horas, nada de Caetano, quando a música é boa não gosto de dividir atenção com nada. Orgasmos solitários. Na hora do amor é momento de música ruim, um romantismo escrachado ou um eletrônico sexy, estilo Portishead. It’s a long long long long way, brothers. Se os artistas de cinema não me fazem mais chorar, pelo menos os orgasmos precisam ser intensos.
Aconselho, portanto, os que estão sem companheiros sexuais a experimentarem uma transa a moda antiga, alá década de 70, deitados na cama, em uma tarde de sábado. Guardem as energias para a noite, para a caça, para as trigresas e leões de plantão. Transar é um ato animal, porém mágico. Aproveite os sons com malícia, sem desgaste.
"The age of old, The age of gold, i'm alive."

A Menina Maniva é quente, viva. Mas nem toda transação é bem vinda. Qualquer idéia, combinação, acordo, entendimento, pacto, maquinação, relação amorosa, para cair bem com a sustância do caldo, tem que levar pimenta,farinha, ou um clichê ao pé do ouvido.

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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Os prolixos e os monossilábicos


Dizem as más línguas que quem fala muito, faz pouco. Se são as más línguas que falam, elas devem pôr pouco em prática, melhor não confiar. Existem pessoas que tem a língua como um músculo bem trabalhado, quase como uma barriga de um alterofilista, o chamado "tanque". Malhar a vida dos outros para elas, é um grande exercício diário. E geralmente, por se preocuparem demasiadamente com a língua, o cérebro trabalha menos.
Existem casos mais graves, que utilizam desse artifício junto com a inteligência.
No dicionário existe uma definição, um adjetivo pouco usado: Prolixo, pessoa difusa, que se alonga nas falas, superabundante em expressões, que pode até se tornar fastidioso e obscuro. É importante compreender que não é o número de palavras que vai fazer com que alguém entenda ou não o que está sendo dito, e sim a maneira que a frase é colocada.
Um prolixo-fofoqueiro é de assustar. Ele só pára de falar quando você concorda com ele, pois assim ele tem a certeza que a fofoca será repassada. É bom ficar atento, existe muita lebre em pele de cordeiro por aí. Os letrados, sabichões, que "dialogam inclusivamente" e assim fingem não estar fazendo fofoca. Um exemplo: "Ah, amigo, eu não queria te falar nada não, mas veja o exemplo do Marcinho do apt. 64, coitado, perdeu a mulher para o primo..."
E assim, facilmente expôe a vida alheia, como quem não quer nada.
Eu aprendi algumas coisas importantes convivendo com a pior raça que existe em termos de prolixos-fofoqueiros-persuasivos: Os jornalistas. Eles relatam os conhecimentos espetaculares, as pautas bem elaboradas, as sacadas de matérias, e ali mesmo, na mesa de bar, aproveitam para destilar o veneno. Atire a primeira pedra quem nunca teceu um comentário "inocente" sobre um colega de trabalho. A fofoca as vezes parece subconsciente, já sai naturalmente.
Confesso que o excesso de espontaneidade já me fez passar por situações de "disse-me-disse" insuportáveis. Mas enfim, aqui quem vos fala é a Menina Maniva, cheia de veneno, não a Madre Tereza de Caucutá.
Se continuar falando dos meus queridos colegas jornalistas, fanfarrões que detonam a vida alheia com a facilidade que engole a saliva, esse texto vai ficar chato demais. Eles usam muito a inteligência fofoqueira. Mas não quero vestir a carapuça, não.
Vamos pensar, então, o que essa espécie tem em comum, por exemplo, com os bancários-monossilábicos ? Os arquétipos estão próximos, pode acreditar.
Os bancários sabem muito sobre tudo o que nós um dia sonhamos em saber. Como que o dinheiro vai parar no caixa eletrônico? Pois é, a semelhança entre eles está justamente no "conhecimento" de causa, eles sabem que sabem. O jornalista faz questão de mostrar, o bancário, fala o necessário: "Sua conta está no vermelho, senhora." E você logo entende que vermelho é uma cor que merece atenção, assim como o seu saldo.
O fato é que pode ser bem pior debater com um monossilábico, e existem jornalistas desse tipo também. Eles querem tentar parecer apenas prolixos em pensamento mas monossilábicos no falar.
No dicionário, diz-se que as palavras que têm uma só sílaba, portam uma idéia absoluta. Realmente, por isso os jornalistas-monossilábicos se tornam blaseés e tem aquela idéia absoluta que ninguém muda. Tentar um diálogo com esses sabichões é perda de tempo e malhação desnecessária para a língua. Ou ele começa a rir de você, ou se levanta da mesa. Simples assim, curto e grosso. E eles também fazem fofocas, sem rodeios vão logo ao principal do fato. Dá medo.
Então, para não começar a parecer prolixa ou deixar escapar a fofoca mais quente do momento, é bom terminar logo o texto. Eu tentei ser o mais concisa possível, o sonho do jornalista fofoqueiro.
Agora, se alguém quiser me instigar, levar a discução para a saída da Marina Lima do Ministério do Meio Ambiente... Bom, deixe um comentário, se for inteligente o suficiente, eu respondo por email. Obrigada.

A Menina Maniva sabe destilar o seu veneno na hora certa. É monossilábica em dias de TPM e prolixa depois do terceiro copo de vinho.

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sexta-feira, 2 de maio de 2008

A paixão e o misticismo

Um novato na escola do coração perguntou:
"Há quem devo me dirigir quanto estiver apaixonado, a Deus ou ao Diabo? Devo agradecer ou suplicar misericórdia?"
O mendigo da esquina, que um dia esteve apaixonado por um cão vira-lata, ouvia a conversa entre o aprendiz e o professor invisível.
Com sua experiência de beira de rua, tentou aconselhar:
"Meu jovem, eu amei um cão e não me arrependo. Ele era da rua como eu, estava na lama como eu, mendigava pedaços de pão e de carinho como eu. A minha paixão por ele só tivera fim porque os males dessa vida foram maiores e não por forças divinas."
O novato em paixões desdenhou: "Eu não conseguiria amar um ser sujo e fedorento."
E o mendigo respondeu: "Você então precisa amar a si mesmo, antes de apodrecer de baixo da terra. Os deuses só existem entre os vivos, e o amor é humano."
O jovem calou-se. Olhou para o tempo, e decidiu não orar para ninguém. Comprou um espelho, se perfumou e tentou conquistar seu amor. Não teve sucesso.
E o sábio mendigo entendeu porque a paixão e o ego não caminham juntos. As divindades são egocêntricas e não interferem no curso do coração, nem da razão. Dar amor, para elas, seria como dar asas a serpentes, pôr lenha na fogueira.
"Deixe os humanos se debaterem", devem zombar. Os Deuses sabem que ser amado verdadeiramente é o nosso maior desejo material.

(Esse texto não foi uma inspiração alá Paulo Coelho da Menina Maniva. Talvez seja um lapso de medo misturado com descrença em paixões humanas. Elas estão rodeando os dias, as cores, as canções. Quanto amor, quanto ego, quanta oração!)

A Menina Maniva continua acreditando no Deus Vinícius de Moraes:
"Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém."

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