Holofotes da memória
Voltar ao passado é uma viagem sem volta. Como se cada lembrança fosse um pedaço de si e ficasse grudada à cena, praticamente um quebra cabeça do "Mapa Mundi". O presente retoma, em seguida, as rédeas da vida, com um olhar diferente. Quanto mais pequenas, curtas e tardias as lembranças, mais difícil encaixar a peça no lugar.
Constantemente me vejo a mesma criança de 10 anos atrás. E o espelho já mudou de endereço pelo menos 5 vezes. Mas o olhar não faz aniversário, não canta parabéns e nem apaga velhinhas. Sempre que se revira ao iluminado espelho, meio de canto, para não se assustar, nem cegar a visão, pisca para o passado e faz um pedido: "Só me chame para sorrisos".
E com tanta coisa escondida é preciso remexer, tirar o pó e os insetos que já construíram moradia por lá. O olhar é preguiçoso, gosta de dormir e fechar as cortinas em plena manhã de sol. Certa vez consegui enganá-lo. Coloquei grandes holofotes dentro do espelho, pintei um sol e poucas nuvens de batom vermelho. Mandei o passado sorrir de canto e pronto: Lá estava o olhar dentro das profundezas do espelho.
Não era dia, nem fazia sol de verdade, ele caiu na farsa. Olhou profundamente, o grito não conseguiu quebrar tantas amarras da memória, ninguém podia salvá-lo de si mesmo.
A viagem era longa, os holofotes de alta potência, a memória imensa.
"Oi menina, quanto tempo não te encontrava! Você mudou tanto!", falou com espanto.
E o eco revirou as paredes sujas de dores, acordou amores, jogou água fria nos sonhos adormecidos, fez canção com os versos perdidos.
Não, ninguém respondeu, não há diálogo entre som e luz. O reflexo volta com a forma que se imagina, com a imagem desenhada pelas lembranças traiçoeiras, nunca acredite nele. Ninguém me escreveu cartas como em "O Mundo de Sofia" e eu não quis fazer perguntas existencialistas. O olhar voltou com as respostas que precisava e com a idade que o dia merecia.
A sensação de rastrear as lembranças é estranha, todas as imagens surgem de uma vez, como um tornado que suga os campos verdes.
A minha plantação é vasta e solta ao vento, pode ser visitada por qualquer olhar e servir de presente para o tempo presente. Servir de holofote para cada nova idade.
Agora, já apaguei as farsas do espelho. Deixo os caminhos de luz abertos, assim como os olhos, sem medo das lembranças. A fantasia do "espelho, espelho meu" já perdeu a graça. Não quero nenhuma mágica que mostre o próximo passo sem que a pegada anterior esteja bem gravada no solo da memória.
A Menina Maniva não floresce em estufas. Não cabe em vasos. Não reflete o inanimado. Mas tem o olho do furacão.
Constantemente me vejo a mesma criança de 10 anos atrás. E o espelho já mudou de endereço pelo menos 5 vezes. Mas o olhar não faz aniversário, não canta parabéns e nem apaga velhinhas. Sempre que se revira ao iluminado espelho, meio de canto, para não se assustar, nem cegar a visão, pisca para o passado e faz um pedido: "Só me chame para sorrisos".
E com tanta coisa escondida é preciso remexer, tirar o pó e os insetos que já construíram moradia por lá. O olhar é preguiçoso, gosta de dormir e fechar as cortinas em plena manhã de sol. Certa vez consegui enganá-lo. Coloquei grandes holofotes dentro do espelho, pintei um sol e poucas nuvens de batom vermelho. Mandei o passado sorrir de canto e pronto: Lá estava o olhar dentro das profundezas do espelho.
Não era dia, nem fazia sol de verdade, ele caiu na farsa. Olhou profundamente, o grito não conseguiu quebrar tantas amarras da memória, ninguém podia salvá-lo de si mesmo.
A viagem era longa, os holofotes de alta potência, a memória imensa.
"Oi menina, quanto tempo não te encontrava! Você mudou tanto!", falou com espanto.
E o eco revirou as paredes sujas de dores, acordou amores, jogou água fria nos sonhos adormecidos, fez canção com os versos perdidos.
Não, ninguém respondeu, não há diálogo entre som e luz. O reflexo volta com a forma que se imagina, com a imagem desenhada pelas lembranças traiçoeiras, nunca acredite nele. Ninguém me escreveu cartas como em "O Mundo de Sofia" e eu não quis fazer perguntas existencialistas. O olhar voltou com as respostas que precisava e com a idade que o dia merecia.
A sensação de rastrear as lembranças é estranha, todas as imagens surgem de uma vez, como um tornado que suga os campos verdes.
A minha plantação é vasta e solta ao vento, pode ser visitada por qualquer olhar e servir de presente para o tempo presente. Servir de holofote para cada nova idade.
Agora, já apaguei as farsas do espelho. Deixo os caminhos de luz abertos, assim como os olhos, sem medo das lembranças. A fantasia do "espelho, espelho meu" já perdeu a graça. Não quero nenhuma mágica que mostre o próximo passo sem que a pegada anterior esteja bem gravada no solo da memória.
A Menina Maniva não floresce em estufas. Não cabe em vasos. Não reflete o inanimado. Mas tem o olho do furacão.