Menina Maniva

A que veio da mandioca, a parte venenosa, com muita clorofila, que precisa de sete dias para ser digerida. Isso porque não é qualquer um que encara a "pratada": Quente, calórica e pesada. Aparência nada amigável, sabor incomparável.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Em terreno de ninguém, aquarela e pincéis poderosos

Primeiro, é apenas o papel, ou a tela, ou a idéia. Depois, a caneta, a tinta, a ação. Mais tarde, os olhos, as significações, as recriações. Uma obra de arte sempre começa do mesmo lugar, do mesmo papel em branco, da mesma ânsia de eternidade de qualquer artista.
Ser eterno para si ou para os outros? Uma questão que sempre permeou as relações artista-obra-espectador. Ser um artista de galeria, exposições ou um artista urbano, intervenções ao ar livre ? Tudo depende do ponto de partida, agora, não apenas da arte, mas do que além da eternidade, instiga o criador: Seus desejos de reconhecimento e de posse.
Se satisfazer apenas com um sentimento agradecido, um olhar estarrecido nas ruas. Ou é preciso agregar um valor ao quadro, que estampará escritórios, lares e o dia-a-dia? Quanto vale a arte? Quanto vale a eternidade? A Menina Maniva está questionadora e confusa.
Um texto publicado no blog do portal G1, pelo crítico de arte Luciano Trigo, me fez pensar em algumas coisas que envolvem arte, principalmente na nossa cidade, que sempre me incomodaram. Luciano utiliza como exemplo de elitização e investimento em vão do Governo Federal na arte Brasileira, em uma feira realizada na Alemanha semana passada (ARCO), que levou 108 artistas nacionais pela bagatela de 2,6 milhões de reais. Investimento na divulgação da cultura nacional para gringo nenhum botar defeito. Será mesmo?
O texto me fez pensar mais do que qualquer obra de arte contemporânea ou instalação instigadora pelas ruas das grandes metrópoles. Me fez pensar nesse mercado de valores que permeiam a arte e que na maioria das vezes, o próprio artista desconhece. Ele é levado, como bem comenta Trigo, pela maré de sucesso e fama midiática, ou os menos conscientes apenas porque tem contas a pagar. O que tem que ser questionado, nesse sentido, não é a ética do artista, mas da parcela que cabe a ele deste latifúndio cheio de invasores com olhos gordos. Já que o negociado nas praças e nas galerias privadas também contribui com as cargas tributárias do Estado, quero entender se os 2,6 milhões investido em poucos valorizam realmente a arte de tantos, Brasil afora.
O Governo valoriza na Alemanha e não cuida dos Museus Nacionais. Não "tampa o sol com a peneira", não. Deixa todo mundo pensar que o dia está lindo, o tempo todo. Assim como (já regionalizando), artistas como mestre Verequete, La Pupunna e alguns cantores apadrinhados da nossa cidade, vão para a França, passam uma semana, ganham o cachê combinado (que não é divulgado) e daqui a 2 meses, nem sabe onde tocar, os teatros estão ocupados com as apresentações do lendário Verde-ver-o-peso, ou de alguma Banda que se apresentará cobrando um ingresso de 15reais. Mas o que é 15 reais gente, perto do valor da arte ? É 15 reais. O que vale é a plateia cheia e as páginas dos jornais floridas. Assim como as notícias: "arte na escola", "arte na favela", "arte na comunidade". Arte na lama e na fama.
Justiça seja feita, artista em Belém do Pará já valeu bem menos. Hoje existem projetos, leis de incentivos, pautas gratuitas, espaços alternativos...Enfim, existem espaços, e artistas consagrados e panelas bem organizadas. Ah, não quero começar a falar delas, cansei. Deixo um trecho do texto do Trigo para falar por mim:

"Isso me leva a outra observação sobre a cobertura da mídia à Arco, que de certa forma reflete o papel geral que a imprensa assumiu em relação à arte. Praticamente todos os jornais e revistas repetiram as mesmas informações, em tom de oba-oba, exaltando a diversidade da arte brasileira apresentada pelas 32 galerias brasileiras que participaram da festa. Até os artistas citados, entre os 108 convidados, são sempre os mesmos. Nem uma linha de reflexão crítica ou estética, nenhuma tentativa de hierarquização em relação às obras expostas. Chegamos ao ponto em que não se discute mais arte, a não ser em termos de cifras ou de espetacularização mediática: não interessa a ninguém apontar que esta ou aquela obra é um fracasso, que este ou aquele artista está equivocado, porque equívocos e fracassos não fazem parte do vocabulário da arte relativista e pluralista de hoje."

Como podemos ver, o que só um pontinho incomodando-me por aqui, é um questionamento bem mais complexo na arte mundial, não existem vocábulos para decifrar a modernidade agregada aos novos valores de tanta linguagem. Ainda existe um outro ponto mais divisor de águas e opiniões ainda: Onde a arte realmente chega? Por favor, vá a Presidente Vargas perguntar qual daqueles trabalhadores do comércio entrou na Galeria do Banco da Amazônia, que fica bem pertinho, de graça, para ver a exposição. Vá até o Ver-o-Peso e pergunte quantos feirantes já entraram no Solar da Beira para ver as fotos do fotógrafo fulano de tal. Em Belém ninguém gosta de ir em exposição, a não ser os intelectuais amigos dos artistas. A arte ainda é muito elitista, e o pior, com a fachada democrática, de graça e estampada nas mídias. A educação do olhar já foi moldada, e também não quero aqui questionar que a arte tem que sempre atingir a todos. Ela sempre atinge a parcela que se dispõe a atingir, mas o questionável é justamente o pluralismo e falta de parâmetros que Trigo combate no trecho acima. Os artistas de instalações, lunáticos, muitas vezes na clandestinidade das esquinas, não caracterizam bem a nossa arte regional e não vão jamais conhecer a França.
E quem colocou os rótulos ? Não existem críticos de arte, mas em Belém têm gênios com opiniões para tudo. Ou é muito bom ou nem se comenta. Existirão sempre os críticos de futebol e política, na arte todo mundo tem medo de meter o bedelho. Os que metem, ganham para isso e por isso, perdem-se. Terreno onde povão não invade. Terreno que era para ser de ninguém.

A Menina Maniva também quer viajar o mundo com sua arte.
Por isso, já começou a planejar sua primeira instalação em praça pública: "Aos mestres, com carinho. Ao Povo, baratinho. Aos olhos, bem facinho."

Marcadores: , , ,

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O Circo está armado



O Entroncamento ganhou uma nova cor esse mês. A entrada da "Br-316", a saída da cidade, a volta para a casa, a ida para a universidade, todos passam inevitavelmente por ali. O encontro de gente, de mercadoria barata, veículos de diversos tamanhos e fumaça. E além deles, este mês, os trailers, a lona multicolor, a iluminação, os aprendizes de palhaços nos sinais, vendendo suas bugigangas feitas artesanalmente. Assuma que eles até arrancaram um dia o dinheiro do seu bolso. Claro, você estava ajudando o próximo, dando mais um pingo de alegria, mesmo que eles não arranquem um sorriso seu sequer.
O Circo. O tamanho imponente carrega toda magia, esta que um dia foi considerada a sua maior proteção. A magia dos olhos infantis, da família reunida na platéia. A magia de alguns instantes protegidos da loucura, da realidade. E sempre que um circo chega a cidade é uma sensação nova, mesmo que o sorriso esteja acostumado, ensaiado, na maioria das vezes.
E em Belém só existe um lugar para acomodar a arte circense: O Entroncamento. Isso mesmo, onde toda a realidade se encontra, e também se desencontra, nascendo e morrendo a beira da avenida. Local perfeito para artistas que vão onde o povo está, mas que se tornam quase uma enclave dolorosa da magia, no mundo real. Magia cada dia mais real e descoberta pelos "Mr. M's", mágicos frustrados e confusos que alimentam os olhos mais céticos nesse mundo que às vezes parece Matrix.
Uma pena os palhaços ainda não terem desenvolvido a inteligência de "NEO" (persongem principal do filme Matrix), para ultrapassar as barreiras das dimensões entre real e o irreal. O preço que eles pagam pela sua verdade mágica, não se paga com as lágrimas coloridas desenhadas no rosto. Tem que concentrar lágrima humana, salgada. Eles, e mais todos os artistas, são jogados na realidade. Eu sei que eles também fazem da arte meio de sobrevivência, de ganhar dinheiro. Sei que lamentam quando um espetáculo não teve o público esperado, a bilheteria não lucrou. Todos sabem do seu papel, mas também sabem do devido valor social da magia que eles divulgam, seja nas fronteiras mais contraditórias, seja nos sertões mais secos, seja nas cidades mais frias. Alimentam algo que existe tanto na ficção quando na realidade, mas que dinheiro não compra: o sonho
Você pode estar pensando: "Nossa, que discurso mais clichê o da Menina Maniva. Só falta agora ela citar a Xuxa, aconselhando os baixinhos." Pois é, a Menina Maniva também é clichê quando todo o resto tenta ser diferente de forma forçada. Nesse circo eu já cansei de ser palhaça. É hora de subir cada vez mais alto no trapézio e começar a tirar as redes de proteção. Não há nada que nos proteja mais do que um sonho alimentado.
Foi esse, talvez, o maior erro do Circo Portugal, que já está se despedindo da nossa cidade. Acabaram criando uma relação com essa terra, fizeram amigos, fizeram propaganda no maior veículo de comunicação local, fizeram quase 200 espetáculos, e uma "caixa poupança" para antes da próxima temporada, um mês de férias, quem sabe. Alimentaram sonhos em alguns e ganância em outros. Esqueceram que não tem a rede de proteção do "Circo Du Soleil".
Então, despertaram a atenção dos artistas sociais discriminados, que também adoram aparecer na matéria de Tv, e querem um lugar nesse picadeiro da exaltação à ignorância humana. Esses artistas frustrados, que não falam o idioma do "Mr. M" e nem aprenderam técnicas de mágica na escola, e muito menos tiveram o jogo do "Gugu-mágico" quando crianças. Armam o seu circo todos os dias e se armam para defendê-lo. Por isso, trataram de mostrar a realidade para aqueles que teimam em disseminar esses sonhos clichês de fantasia e alegria.
Conseguiram. O feito estampou os jornais, foi a notícia da semana. A alegria incontida de todos os astros do simpático Circo Portugal, se calou. A bilheteria de tantos sonhos alimentados foi saqueada. Quase 20mil reais de um trabalho árduo, que poucos humanos são capazes de atingir. A proteção da lona me parece ingênua nas mãos dos artistas marginais das ruas. Eles sabem muito bem quais truques fazer, a hora certa de agir e por onde fugir, bem mais que qualquer malabarista. E não tem medo do globo da morte ou do leão enjaulado. Quanto maior o perigo, maior o espetáculo. O que importa é estar no picadeiro, seja matando sonhos ou corações humanos.
Felizmente, ninguém do Circo Portugal ficou ferido. Os artistas marginais devem estar comprando o aparato necessário para o próximo espetáculo. Nos olhos dos artistas sonhadores, que viajam pelo Brasil em busca de vida, sorrisos e sonhos para alimentar, a decepção foi mostrada na mesma tela que fez a propaganda do espetáculo circense na cidade. Em alto e bom som. Então, eles (os artistas-jornalistas) tiveram a sua devida recompensa, o furo jornalístico em cima das demais emissoras e em cima da tristeza desses artistas.
O Circo Portugal também furou a própria lona nessa história toda. Alimentaram sonhos de uma cidade para depois nunca mais ter vontade de pisar nela. Seremos uma "enclave" dolorida na história deles: Dez anos de estrada, o primeiro assalto. E eles têm toda a razão em não querer voltar a essa realidade que estamos acostumados. Outros artistas já tomam conta do pedaço. E o Circo está de malas prontas, voltando pela mesma estrada, nunca estiveram tão perto da saída. Vão reconstruir e alimentar, agora, os próprios sonhos e assim, a segurança da alma, no artista que jamais se sente derrotado. Dinheiro vai e vem, sonhos que vão não voltam.

A Menina Maniva coloca uma lona na mente para proteger a fantasia. Mas quando está na rua, é preciso recolher a ingenuidade e se vestir a caráter. Artistas marginais podem se misturar facilmente aos artistas sonhadores.
Aviso: A maniva é veneno, basta não cozinhar, e a lona pode virar um saco asfixiante, se precisar.

Marcadores: , , ,

sábado, 16 de fevereiro de 2008

E ver tudo bem mais claro no escuro


Na manhã de hoje estava tentando imaginar qual seria a minha loucura, minha piração, se eu tivesse nascido há três décadas. Digo loucura e piração no sentido de estado de espírito e também escolha de modo de vida. Mas será que isso é uma escolha nossa mesmo? Foi Marx quem disse que o homem é um produto do meio? Bom, há indícios de que viramos consumidores, ávidos e famintos por tudo que é oferecido nesse meio conturbado que é a sociedade capitalista.
Mas a Menina-Maniva hoje veio falar de algumas loucuras que permeiam as vidas humanas, e que causam certo ar de mudança, nem sempre instantânea. Os efeitos reais só são sentidos algumas décadas depois.
Sim, tudo são os produtos, os devidos consumidores e esse meio das ofertas, mas há questões que ninguém sabe explicar muito bem. Sim, minha gente boa, estou falando de "Movimento", talvez a palavra mais literal, intensa, que eu já conheci.
A década em que fui adolescente está acabando agora, vou fazer 21 anos, a tão esperada maior idade. Vivi momentos de pequenos modismos, aliados a descoberta e avanços tecnológicos, no que se diz respeito à moda, cultura e comportamento. Na música, lembro-me da minha infância ao som do "Gera Samba”, grupo de axé baiano, que revelou "talentos" como Carla Perez e Sheila Carvalho. Revelava muito, por sinal, de suas personalidades e formas roliças, escancaradas na tela da Tv. Aprendi a valorizar minha anatomia de mulher com a falta de pudor delas.
Na entrada da minha pré-adolescência, lembro da fase dos "Tamagoshis" brinquedos criados pelos Chineses e que tomaram conta do mundo. Cheguei a cuidar de 3 filhinhos, andava com eles pendurados no cordão de metal, não descuidava um segundo sequer. Eles sentiam fome, sede, e alimentavam também meu espírito de responsabilidade, me fizeram deixar as bonecas pela primeira vez, de lado.
E nos meus 15, 16 anos, a moda foi o pagode romântico, mas não fez parte da minha vida por muito tempo. Eu até cheguei a pedir o autógrafo do Chrigor, vocalista do "Exaltasamba". Mas esse passado eu prefiro deixar paradinho, no seu lugar. Porque comecei a ler mais, conhecer outras coisas, fiz teatro, cantei, dancei, fiz parte dessas modinhas mas passei por elas, estava em mutação, tentando fazer meu próprio movimento. E quem não está? O Fato é que parecemos apáticos mesmo. E acabei descobrindo, talvez por sorte ou destino, algumas válvulas de escape, rios de corredeiras jamais paralisados: A arte. E devo hoje muita coisa a ela e ao movimento de vida que me fez criar. E acho que até no que eu fizer como jornalista, ela estará sempre viva.
Então, vou fazer, enfim, referência ao título desde post, alguém se identifica? Sim, nosso querido Tim Maia, que nunca foi "nosso", era do mundo e da sua loucura. O seu álbum mais bonito, o "Racional" (1975/1976), quando entrou na irracionalidade de uma proposta de salvação alienígena, com sua energia boa e luz intensa. Eu ouvi "Bom senso" pela primeira vez na Rádio Cultura, há 2 anos mais ou menos. Meu universo encantou-se na hora.
Ele procurava uma resposta para tudo aquilo que sentia, e não era o movimento, no sentido literal, que faltava a sua vida, era uma busca da verdade humana, aquilo que move o homem e inexplicavelmente também montanhas.
Então ele teve que subir lá no alto para ver tudo o que o movia, como diz a canção. No alto da loucura. Porque nem tudo que move é visível, assim como as estrelas estão de dia no céu e ninguém pode vê-las, pois são ofuscadas por algo maior, o sol. E isso não tem haver com nenhuma religião ou crença, é a busca na natureza humana. É a beleza de conhecer o desencanto e ver tudo bem mais claro no escuro. Acho que é a metáfora perfeita pra descrever o que viveu o Tim.
Quando se está no rio, é preciso nadar com calma, ou se deixar levar pela correnteza. E a válvula de escape dele foi a mesma que a minha, a arte. Sempre a arte. Salvadora, libertadora, conscientizadora, ilusória também. Estar vivo e em movimento requer cuidados redobrados. O modismo pode movimentar você. O Tim conseguiu se movimentar, entrou e saiu de uma cultura desconhecida, tudo inteiramente, com verdade. Construiu a vela e seguiu os ventos soprados pelo coração. Viveu de forma intensa, coisa de artista grande, onde a arte acabada superando a própria vida.
Eu considero esse estado humano de inquietação necessário e independe de qualquer década. Da influência de pensamentos sociais de cada tempo, ninguém está imune, mas a racionalidade humana não pode escravizar emoções inexplicáveis, as loucuras, pirações, que ninguém sabe se vêm de marte ou do quinto dos infernos. Tudo é a arte de saber se mexer, achar o movimento natural. O caminho do bem, sem saber ao certo o que é o bem e o mau.
Aí pode estar a resposta para tanta gente, que assim como eu, busca no passado a sua motivação para andar para frente. E também daqueles que vêem o futuro com olhos de Águia, fazendo viagens para o alto de sua verdade, e recriando, e construindo e destruindo e se fazendo hiperativos em sua época, que é agora. O que já aconteceu, está acontecendo.
Por isso, é válida a proposta de alguns músicos de Belém, em relembrar e dar uma cor renovada as noites tão monótonas de chuva, ao som Racional. Música boa eu consumo com gosto, basta apenas um contato.
Salve Tim. Salve a si. "Que beleza é saber seu nome, sua origem, seu passado e seu futuro", não é mesmo ? E então, quem sabe, daqui a três décadas eu não volte a "manivar", novamente, sobre a vã existência humana, repetitiva e inexplicável.

A Menina-Maniva está racional ultimamente. Mas o movimento de sangue nas veias é intenso, por isso nunca está imune às emoções irracionais.

Marcadores: , ,

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Terapias alternativas para dores interativas


Um amigo sábio orientou a Menina Maniva tempos atrás sobre as prováveis dores do coração ou da solidão: "Mastiga a crise,nêga! Mastiga e começa digestão!".
Ele dizia isso porque tinha lindos dentes e voz melodiosa para acalmar a crise antes de devorá-la. Tinha suas terapias alternativas internas.
Ninguém sofre por acaso, meu bem. Às vezes, a gente sofre por puro existencialismo barato, por tudo que nos repetem sobre o amor-utopia, desde pirralhinhos. Ou porque parece que se não sofrermos pelo “fulano” que nos levou pra jantar, tomar o melhor vinho, com melhor canção de Sinatra ao fundo, que fez sexo desvairadamente a noite inteira e ainda deu beijo com bafo pela manhã, e não liga a uma semana, somos mulheres fáceis, porcas, sujas e insensíveis. Não somos dignas de um namorado como o “fulano”, perfeito.
Mastiga, nêga. Mastiga de “cum força”! Agora, de boca fechada para não perder a classe, né?
Eu sei que existem dores que parecem transbordar por entre os poros, só as lágrimas já não bastam. Parece que a energia das relações humanas é tão forte que até o cobrador de ônibus conferiu o troco para você e puxou o sinal no ponto que você desce, por puro dó da sua carinha de enferma. Ah, eu sei como é isso. Nem um lápis no olho você teve coragem de passar. Mas para toda dor interativa mundana como essa, existe uma terapia alternativa. Eis o ponto G de toda essa gozação com o nosso sofrimento. Nós podemos sim burlar a mente, a energia, e mastigar a crise como quem mastiga um pedaço de gelatina light, baby. Como?
Bom, meu amigo sábio metia os dedos no violão e cantava suas canções mais medonhas e dramáticas. Ele é intenso, gosta de sentir tudo de uma vez, chorar numa noite por todas as passadas com a “ciclana” e no outro dia estar inteiro. Eu chamaria isso de “terapia de choque”, mas funciona. Testada e comprovada pela Menina-Maniva. Mas se você tem coração mais mole que a tal gelatina, melhor não se arriscar.
Existem formas mais leves de tratamento, para seus dentes sensíveis. Como ir ao shopping na promoção (isso se você estiver numa situação financeira estável e com um emprego seguro, por favor!), ou então fazer rapidamente um Profile no Orkut-coisa que você sempre odiou- porque vai que encontra alguém inesperado pelas páginas virtuais? Boa pedida também pode ser comprar um livro feminista, que tal "Mulheres que correm com Lobos" ? Ah, tem ainda terapias super saudáveis, mas essas são num período pós-fossa, uma semana depois do ocorrido. Como entrar na academia, cortar o cabelo, sair para a balada numa terça feira...Mastigar a crise de batom vermelho e salto alto meu amor, é melhor ainda!
Mas de algo você não pode esquecer: A crise ainda existe e precisa ser superada. A terapia é um modo paliativo, um empurrãozinho para a dor começar a te abandonar, mas tudo depende da sua mandíbula, da força da sua mordida. Não adianta ir para a Rave Trance e ficar sentada. Mas também não precisa tomar três ecstasys para pirar o cabeção. Entende? A Menina-Maniva tem que ter autocontrole e auto-conhecimento. Sim, palavras difíceis para dores tão interativas quanto aqueles olhares profundos, aqueles corpos que se encaixaram, aquelas línguas quase que coladas. Mas a alternativa então é inteirar-se sobre si mesma. A próxima dor vai ter que aterrizar em outro campo, desconhecido ainda, um novo sabor para o paladar. Então você deve pensar: “Mas que maravilha, vou descobrir mais uma alternativa terapêutica!”. E assim o mundo vai aturando a dor, junto com as glórias e angustias, com encontros e fugas dessas substâncias desconhecidas. O nosso repertório de emoções tende repetir, tenta lidar do mesmo jeito com a sensação nova de dor. Então a gente só sai do lugar quando percebemos que já não estamos no mesmo lugar.
Por isso, eu lanço aqui a sugestão de terapias que tem que ser mais internas que externas. São fugas para dentro. É como inventar um prato com o nosso nome, e "se comer" com maior vontade. Mas isso sem a menor perspectiva de ser a saída de todas as dores, ou nenhuma novidade para os psicólogos mais conceituados no mundo. É pura repetição mesmo, talvez para absorção mais ampla de tudo, afinal, é preciso mastigar bem para não engasgar. Se o alimento fica preso na garganta, sufoca. Então é preciso degustar com calma, ir até o fim de cada pedaço.

A Menina Maniva aprendeu a se alimentar sem exageros. Mas sabe que se algo não cai bem, ainda existe o "Sonrisal".

Marcadores: , ,

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

"Só não vai quem já morreu..."

Eu queria escrever um texto sobre o carnaval. Sobre a purpurina e a animação que banha esses dias de fevereiro. Eu queria falar sobre os blocos de rua que animam a cidade nos finais de semana, sobre os personagens impagáveis que circulam alegremente sem vergonha de ser feliz, com suas fantasias a mostra. Queria comentar sobre essa gente que trabalha o ano todo para desfilar um dia, e ainda na Aldeia Cabana sem a mínima estrutura, sendo julgado por gente que muitas vezes nem entende o que realmente significa carnaval.
Mas eu não vou falar de nada disso porque seria vestir a máscara de toda essa hipocrisia.
A Menina Maniva foi criada para ser sincera ao extremo, e continuará sendo, mesmo em épocas de folia.
Vou vestir o meu colete a prova de balas agora, para terminar esse texto com palavras dignas de qualquer tiroteio em praça pública.
Não quero usar expressões tipo, "reféns do medo", "brincando de policia e ladrão". Como podem perceber eu sei mais do que não quero dizer. O que realmente quer sair de mim têm o tom de desabafo. É difícil tentar colocar as coisas de forma diferente quando toda a notícia parece sempre igual. Quando todo mundo parece decorar a opinião de alguém e passa-la a diante. Então, o que eu quero passar a diante aqui é a minha indignação por mais natural que ela possa parecer nos dias de hoje.
Não eram fogos, meu amor, eram balas. Você ainda quer pular carnaval na cidade velha ? A polícia vai te proteger sim. Acredite. A não ser que tenha uma manifestação dos ambulantes na Av. Presidente Vargas e todo batalhão esteja ocupado.
Vou começar a beber dessa bebida amarga que é a covardia. Por isso, já sei até qual é o acessório certo para se usar nesse carnaval, já até encomendei o meu e vou mandar benzer: Cinturão de couro, mano. Só ele vai te proteger. Têm um campo magnético que afasta balas.
Agora se você quiser arrumar um namorado nessa época, muito cuidado, têm gente atirando para todo lado. E é melhor não comprar o tal cinturão, neste caso, se não nenhuma "pistola" se aproximará de você, a não ser a de bandidos.
Têm que ter bom humor minha gente, tem que dar cerveja para a indignação e dançar ao som das marchinhas. Porque esse carnaval só é violento com quem não está bêbado. Nesse estado é até legal virar refém e correr risco de passar o carnaval debaixo da terra, fantasiado de caveira. Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, não é mesmo?
Eu estou bem viva. No próximo bloco dos mascarados reféns de rua, me chamem, por favor. Quero saber onde a banda vai passar que eu vou passar longe.

A Menina Maniva cai na covardia se eles chamam isso de carnaval de alegria. Não consegue usar o cinturão de couro por muito tempo,não.

Carnaval inesquecível na Cidade Alta- Mundo Livre S/A **(Assista!)**

Marcadores: , ,